Após o show da Madonna em Copacabana. Não se fala em outra coisa: pelo bem ou pelo mal. Passando pelas redes sociais, me deparo com muitos discursos da não presença de arte nesse evento, que, além dessa observação, discorrem sobre sua (Madonna) vida dentro e fora do palco. Mas veja só: o que é arte? Arte não seria a própria vivência de um artista expressa em sua manifestação? Toda essa discussão me fez lembrar de uma conversa com um amigo, meses atrás. Ele começa me dizendo que nas redes sociais de seu filho não se encontra “música de qualidade” e que lá há nada que possa agregar na sua (filho) vida e crescimento como jovem estudante. Essa crítica, que seja válida a esse pai e amigo, me fez trazer a seguinte indagação a ele (amigo): e o que você está fazendo para mudar isso? Pois pensemos, há espaço para todo tipo de arte, digo assim, manifestação artística da realidade desses artistas. Onde isso é ilegítimo? Afinal, arte é subjetiva, ou seja, cada um tem sua própria visão, e não devemos invalidar como um artista se manifesta diferente de outro. Mas calma, antes que eu me perca nesse devaneio filosófico, quero voltar à conversa com meu amigo. Assim, eu expliquei a ele (amigo), que as críticas às redes sociais e outros estilos musicais é válida com vivência dele (amigo), mas o que é que ele (esse mesmo amigo) está fazendo com isso? Basta retirá-lo (o filho) das redes sociais? Basta banir de casa canais de tvs e rádios que tocam os estilos mais populares do Brasil? Basta reclamar e não agir? O que me traz a reflexão do título deste texto: o que a Madonna no Brasil nos ensina? Ensina que há espaço para todo o tipo de manifestação artística, seja ela qual for pautada na vivência deste artista. Mas uma coisa não podemos negar: se te incomoda tanto, o que você está fazendo a respeito? Vejamos meu amigo pai de adolescente. Ele não gosta do conteúdo das músicas que estão mais acessíveis para o filho.
Ele (o pai amigo), sabendo que sou um artista da música clássica, ainda enfatizou o desejo do filho de ter mais contato com esse gênero musical. E eu sei, caros que me leem, já está repetitivo isso, mas, o que é que estão fazendo a respeito? Vocês (pai amigo e leitores críticos aos estilos musicais mais acessíveis no Brasil) estão levando seus filhos a concertos e apresentações de orquestras? Vocês (pai amigo e leitores críticos aos estilos musicais mais acessíveis no Brasil) estão incentivando seus filhos a buscar conhecer as fascinantes histórias por trás da música clássica? Vocês (pai, amigo e leitores críticos aos estilos musicais mais acessíveis no Brasil) então mostrando a seus filhos que uma Ópera tem sua criação através de textos da literatura? Vocês (pai, amigo e leitores críticos aos estilos musicais mais acessíveis no Brasil), e essa vai doer, criticam o show da Madonna mas estão ajudando a financiar alguma orquestra na periferia? Estão engajados a levar música para jovens que não têm contato com o gênero clássico? Criticar é fácil, o desafio é mudar isso! Sabemos que a música clássica traz, aos jovens e crianças, uma experiência enriquecedora para o desenvolvimento estudantil. Mas enquanto não houver espaço nas redes sociais, emissoras de tv e estações de rádios para se ter acesso a esse gênero, cabe a nós (pai amigo e leitores críticos aos estilos musicais mais acessíveis no Brasil), dar a oportunidade aos filhos de conhecer um outro caminho a ser desbravado na arte. O que a Madonna no Brasil nos ensina? Que pouco fazemos para levar arte e cultura aos nossos filhos. Que não há necessidade de minimizar outro estilo para valorizar o que achamos correto ou não. A Música Clássica busca espaço, e eu deixo aqui ao (pai amigo e leitores críticos aos estilos musicais mais acessíveis no Brasil): não está contente com as músicas que estão ao redor de seus filhos? Pois então mude o ambiente que ele (filho) vive. E uma ótima maneira de começar isso é em casa.
Cesar Camargo
Mestre em Opera Performance, Tenor, Professor e Escritor