Doris Monteiro

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Adelina Doris Monteiro (Rio de Janeiro, 21 de outubro de 1934 – Rio de Janeiro, 24 de julho de 2023) foi uma cantora e atriz brasileira.

Carreira

Descrita por renomados críticos musicais como a cantora que tem “a bossa de quem já nasceu sabendo” e símbolo de “modernidade já atemporal” no universo da música brasileira, a carioca Doris Monteiro começou a despontar para o público aos 15 anos, cantando em programa de calouros no rádio, em francês. O ano era 1949 e o samba-canção consagrava cantores com vozes de alta potência e repertório de dor de cotovelo. Doris, porém, tinha a voz suave e emprestava charme e frescor às canções, privilegiando também letras mais alegres e firmando-se como precursora de um estilo que viria a ter destaque também na bossa nova, além de acumular gravações de sucesso nas décadas seguintes – especialmente nos anos 60 e 70. É considerada uma das mais expressivas cantoras da transição do samba-canção para a bossa nova.
A artista tem um papel importante na história da música brasileira ainda por ter afiançado, com sua arte, o início da carreira de grandes criadores. “Um atrás do outro, Doris ajudou a deslanchar compositores como Tom Jobim e Dolores Duran (Se É Por Falta de Adeus), o hoje injustamente esquecido Fernando César (Dó-Ré-Mi, Graças a Deus e Joga a Rede no Mar), Billy Blanco (Mocinho Bonito), Sílvio César (O Que Eu Gosto em Você), Sidney Miller (Alô Fevereiro), Maurício Tapajós e Hermínio Bello de Carvalho (Mudando de Conversa)”, ressalta em artigo o jornalista, biógrafo e escritor Ruy Castro.
Tão logo se tornou famosa, nos anos 50, foi convidada a fazer cinema, participando de oito filmes ao longo da carreira. Em 1953 obteve o prêmio de Melhor Atriz no I Primeiro Festival de Cinema por sua interpretação em Agulha no Palheiro, de Alex Viany.
Com mais de 20 LPs e mais de 20 discos de 78rpm gravados, Doris se mantém ativa, fazendo shows. Em 2020, regravou a música Fecho Meus Olhos, Vejo Você no álbum Copacabana – Um Mergulho nos Amores Fracassados, produzido pelo jornalista e musicólogo Zuza Homem de Mello, com base em seu livro Copacabana – A Trajetória do Samba-Canção(1929-1958), lançado em 2017.

Infância e estreia no rádio

Doris nasceu e foi criada em Copacabana, primeiro pela mãe biológica – que, sozinha, se viu impossibilitada de trabalhar como empregada doméstica e proporcionar os cuidados que a filha necessitava – e depois pelo casal Lázaro e Ana, ele porteiro de um prédio e ela dona de casa. Foi uma infância sem privilégios em termos financeiros, mas com muito foco na educação. Mesmo com dificuldades, os pais conseguiram que ela fizesse o primário em uma escola privada, o Colégio Copacabana, e posteriormente ela foi aprovada para ingressar no Colégio Pedro II, tradicional instituição de ensino público federal. Ela também estudou na Cultura Inglesa e aprendeu a falar francês com a mãe, que tinha vivido nove anos em Lyon.
Esse conhecimento foi decisivo quando, por insistência de uma vizinha que ouvia Doris cantando em casa e percebia seu talento, a jovem de 15 anos se apresentou no programa Papel Carbono, apresentado por Renato Murce, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. O desafio feito aos calouros era imitar outros cantores e Doris escolheu cantar Boléro, interpretada pela francesa Lucienne Delyle. Tirou o primeiro lugar e, a partir daí, começou a receber convites para participar de vários programas de calouros.

Rádio Tupi e primeiro disco

No começo dos anos 50 foi convidada pelo cantor Orlando Correia a fazer estágio de um mês na Rádio Guanabara, onde foi crooner da Orquestra Napoleão Tavares e Seus Soldados Musicais. Doris, porém, queria ingressar na Rádio Tupi, cuja audiência era bem maior. Para tanto, contava com um traço marcante de sua personalidade – a capacidade incansável de insistir até conquistar o que quer – e uma ajuda do destino: no prédio em que ela morava vivia Alcides Gerardi, cantor da Tupi que fazia muito sucesso na época. Em diversas entrevistas ela conta que “infernizou” tanto a vida do vizinho que conseguiu um teste com o cantor, compositor e radialista Almirante. Tinha 16 anos, foi contratada e ficou oito anos na rádio.
Quando começou na emissora, Doris também trabalhava de crooner no Copacabana Palace, um dos mais luxuosos palcos da época, cantando em inglês e francês. A experiência durou seis meses porque, uma vez contratada pela Tupi, não podia seguir na boate do hotel, cujos shows eram transmitidos pela Rádio Nacional.
A passagem pelo Copacabana, no entanto, foi marcante, pois o público se interessava em ver a menina de 16 anos, de trança, com a mãe sempre ao lado e de posse de um alvará para que a filha pudesse cantar, pois era menor de idade. No livro MPBBambas – Histórias e memórias da canção brasileira Volume 1, do jornalista e crítico musical Tárik de Souza, a cantora conta que sua história era publicada “em tudo quanto era revista da época” e era como se ela tivesse virado uma “atração turística” do Rio de Janeiro.
Cada vez mais conhecida também como cantora da Tupi, onde não interpretava músicas inéditas, despertou o interesse da gravadora Todamérica, que a contratou para produzir seu primeiro disco (78rpm), em 1951. Na lado A, lançou Se Você se Importasse, de Peterpan; no lado B, Fecho Meus Olhos, Vejo Você, de José Maria de Abreu.

No topo das paradas, nas telas dos cinemas

Os anos 50 marcam a consagração da artista em todo o Brasil. Sua gravação de Se Você se Importasse ficou cinco meses no topo das paradas de sucesso, lançando Doris ao estrelato na música brasileira. É uma década em que produz vários discos em 78rpm com músicas de compositores como Wilson Batista e Jorge de Castro; Tom Jobim e Dolores Duran; e Antônio Maria e Vinicius de Moraes, para citar alguns.
O primeiro LP surgiria em 1954: Vento Soprando, pela Continental, que teve entre as músicas de maior sucesso Graças a Deus e Dó-Ré-Mi, ambas de Fernando César e Joga a Rede no Mar, de Fernando César e Nazareno de Brito.
Um ano antes o cinema havia entrado na vida da cantora pelas mãos do cineasta Alex Viany, que a convidou para participar do filme Agulha no Palheiro, com o qual ganhou o prêmio de melhor atriz em 1953. Ao todo, fez oito filmes na década de 50 e dois nos anos 60, tendo atuado com artistas como Mazzaroppi, José Lewgoy, Glauce Rocha e Tônia Carrero. A música, no entanto, era a prioridade e ela acabou se afastando do cinema.
Sucesso nas paradas, no rádio e no cinema, a artista também se tornou uma das estrelas da TV Tupi em meados dos anos 50, apresentando o programa semanal Encontro com Doris Monteiro, transmitido somente para o Rio de Janeiro. Nesta época, seu repertório ganhou novas tonalidades, deixando de ficar restrito ao samba-canção e ao bolero, por influência do músico e compositor Billy Blanco. Ele aconselhou a artista a interpretar músicas com mais balanço, mais próximas do samba, o que Doris considerava estranho ao seu estilo, até ser apresentada a Mocinho Bonito, composição de Blanco. Gravada em 1957, tornou-se uma das músicas mais marcantes da carreira.
O canto mais “suingado”, na verdade, era justamente o que Doris, ainda menina, mais gostava de ouvir. Era fanática por Lúcio Alves e Dick Farney – “cantei muito calcada no Dick e no Lúcio, que para mim eram sempre os melhores cantores”-, além de apreciar também Os Cariocas, Nat King Cole e Sarah Vaughan.
Em 1956 ela foi eleita Rainha do Rádio, em um concurso da Associação Brasileira do Rádio no qual as candidatas vendiam votos com objetivo de arrecadar fundos para a construção de um hospital para os radialistas. Foi um processo diferente de quando, em 1952, se tornou Rainha dos Cadetes, quando foi eleita diretamente no voto.

Do samba-canção à bossa nova

Nos anos 1960, “com a técnica vocal mais amadurecida, Doris mergulhou de vez em um repertório moderno, cheio de charme e suingue”, define o jornalista, produtor, historiador e crítico musical Rodrigo Faour. Em 1961, já pela Philips, lança o LP Doris Monteiro, com o qual emplaca mais dois grandes sucessos: Palhaçada e Fiz o Bobão, ambas de Luís Reis e Haroldo Barbosa. Na nova gravadora, o então diretor-artístico Armando Pittigliani pede para a cantora gravar músicas da bossa nova e no LP de 1962, Gostoso é Sambar, já começam a aparecer entre os compositores Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, com Nós e o Mar; e Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, que assinam Você e Eu.
Na sequência ela grava o disco que é considerado “o mais bossa nova” de toda a carreira. No LP Doris Monteiro, de 1964, a cantora registra Samba de Verão, Deus Brasileiro, E Vem o Sol e Razão de Amor, todas dos irmãos Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle. Também canta três músicas de Durval Ferreira com diferentes parceiros (Dois Peixinhos, Vivendo de Ilusão e Falaram Tanto de Você), Eumir Deodato (Baiãozinho), João Mello (Vou de Samba com Você), além de gravar o sucesso Sambou, Sambou, de João Donato e João Mello. Também é neste disco que Doris canta Diz que Fui Por Aí, de Zé Keti e Hortêncio Rocha.
Em Simplesmente, de 1966, a cantora apresenta seu álbum de estreia na Odeon com um repertório que também privilegia a bossa nova e apresenta, na primeira faixa, Meu Refrão, de um Chico Buarque em início de carreira. Foi uma das primeiras artistas renomadas a gravar o compositor. Em 1969, um ano depois de lançar Mudando de Conversa (Maurício Tapajós/Hermínio Bello de Carvalho) em um compacto simples, a cantora batiza o novo LP com o mesmo nome da música, que se tornou um clássico de seu repertório. O hit ficou cerca de cinco meses nas paradas e o disco foi recordista de vendas. Outra música que marcou foi Dó-Ré-Mi, de Fernando César.
Para o jornalista e historiador Rodrigo Faour, neste álbum Doris mostrou-se “uma intérprete mais madura e versátil, sem se prender a rótulos de cantora de bossa ou de samba-canção. Aliás, daí por diante, Doris seria da MPB, sem restrições”.

Uma cantora à prova de rótulos

Os anos 70 encontram em Doris Monteiro uma cantora madura e mais versátil, com maior domínio dos rumos da própria carreira. No LP de estreia desta década, também denominado Doris Monteiro, ela grava de Sílvio Cesar e João Roberto Kelly a Jorge Ben Jor e Carlos Imperial, além de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, autores de uma das músicas mais tocadas do disco, Coqueiro Verde.
Um ano depois ela lança Doris, cultuado LP em que a artista apresenta três canções que marcam para sempre seu repertório: É Isso Aí, composta por Sidney Miller; De Pilantra e de Poeta, de Alberto Land; e Conversa de Botequim, parceria de Noel Rosa com Vadico. Ela também canta no disco Hei Você, de Elizabeth, uma artista ligada à Jovem Guarda, além de gravar composições de Caetano Veloso, Sérgio Sampaio, Antonio Adolfo e a dupla Toquinho e Vinicius de Moraes.
Ao longo da década grava mais cinco álbuns solo nos quais amplia ainda mais o leque de compositores e diversifica o repertório, ao mesmo tempo em que lança discos em parceria. De 1970 a 1974 grava quatro LPs com o cantor Miltinho, todos intitulados Doris, Miltinho e Charme. O encontro, que antes de se concretizar parecia improvável, acabou virando um marco na música popular brasileira. A cantora também fez dupla com Tito Madi, em 1992, no disco Brasil Samba Canção, dentro da série Academia Brasileira de Música, lançada pela Sony.
Em 1977, Doris Monteiro foi convidada a participar do Projeto Pixinguinha fazendo dupla com seu ídolo de infância, Lúcio Alves. Deste trabalho nasceu o disco Doris e Lúcio, lançado no ano seguinte com 12 faixas, todas já consagradas naquela época entre os grandes sucessos da música brasileira.


Créditos das imagens: Google fotos

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